Definição

É o urologista com formação para atendimento das crianças que apresentam sintomas ou doenças urológicas, às vezes descobertos no período pré-natal (antes de nascer). O atendimento infantil, com advento de novos métodos de imagem, tornou-se mais eficiente na medida em que temos diagnósticos mais precoces, como por exemplo a hidronefrose (dilatação do rim) detectado pela ecografia obstétrica, nas crianças com megauretér ou válvula de uretra posterior.

Além de instituir tratamento clínico, o urologista infantil ou uropediatra deve estar apto a lidar cirurgicamente com uma série de doenças como fimose, refluxo vésico-ureteral, megauretér, válvula de uretra posterior, estenose de junção uretero-piélica, cálculos renias, tumores renais (Wilms), malformações congênitas, etc.

Infecção do Trato Urinário na criança (ITU)

Infecção do trato urinário (ITU) pode ser definida como a presença de bactérias se multiplicando ativamente na urina presente no trato urinário (são os órgãos e condutos que produzem, armazenam e eliminam a urina). O trato urinário é habitualmente estéril (livre de bactérias, germes ou micróbios) assim, uma ITU é uma resposta do organismo (defesa) à multiplicação bacteriana.

A urina é secretada pelos rins e excretada pelos ureteres, armazenada na bexiga (guardamos urina por 23 horas e 55 minutos no dia) e eliminada no meio externo pela uretra. Uma ITU pode comprometer os rins e ureteres, sendo considerada ITU Alta ou comprometer bexiga e uretra numa ITU Baixa. A exemplo dos adultos, a maioria das ITU está associada à bexiga.

O trato urinário só perde para as infecções respiratórias como principal sítio (local) de infecção nas crianças. ITU durante os primeiros 6 meses de vida é mais comum em meninos (pela possibilidade de fimose) do que nas meninas. Após os cinco anos, as ITU são 50% mais comuns nas meninas do que nos meninos. Nos primeiros 10 anos, os meninos têm uma chance de 1% e as meninas de 3% de terem uma ITU e 40% de chance de se tornarem crônicas ou de repetição nas meninas, contra 30% nos meninos. Em crianças mais velhas, adolescentes e adultos, o sexo feminino lidera as ITU.

Na maioria das crianças, as ITU não causam problemas sérios de saúde ou dano renal permanente, mas, em alguns pode significar a existência de doenças mais sérias. O rim infantil é suscetível às infecções e destas podem resultar “cicatrizes” com dano renal permanente, que no adulto poderá originar hipertensão arterial ou insuficiência renal. Com uma detecção precoce, investigação adequada e tratamento apropriado, podemos evitar tais conseqüências.

Na criança existem dois tipos básicos de ITU: cistite (bexiga) e pielonefrite (rins). As infecções são causadas por germes (bactérias ou micróbios) que tem seu tipo muito semelhante ao do adulto, bem como o meio de penetrar no corpo. Em 90% dos casos encontraremos uma bactéria chamada Escherichia coli ou simplesmente E. coli como responsável pelas infecções. No caso das cistites infantis, bactérias das fezes penetram através da uretra e nas pielonefrites as bactérias sobem da bexiga (cistite) até o rim, podendo causar dano renal permanente (pielonefrite crônica).

O diagnóstico de uma ITU é razoavelmente fácil. Um exame físico detalhado (para afastar outras causas), um exame de urina minucioso, com microscopia e cultura, são indispensáveis. Para se ter uma ITU, precisa-se de uma cultura de urina (ou urocultura) positiva. No caso de se tornarem crônicas ou de repetição, exames de imagem mais minuciosos devem ser solicitados, começando por uma ecografia, RX simples de abdômen, urografia excretora (RX), urodinâmica, etc., para se diagnosticar a causa das repetições, que podem ser desde uma simples fimose até mal formações congênitas do aparelho urinário.

Dentre os principais fatores envolvidos nas ITU das crianças, podemos citar a idade, quanto mais jovens mais suscetíveis aos germes, principalmente os meninos com fimose (não prepúcio redundante). Alguns problemas com a eliminação da urina, como por exemplo ocorre durante a retirada das fraldas e “treino” do piniquinho. Aqui, sintomas como urgência e incontinência podem significar infecção. O refluxo vésico-ureteral (urina que volta da bexiga ao rim), por imaturidade do mecanismo antirefluxo vesical ou ureteral, ou ainda dissinergia (descompasso, desencontro) da musculatura vesical e esfincteriana (que controla a saída de urina) imatura, permitem que uma cistite vire uma pielonefrite.

Alguns defeitos congênitos (fimose, hipospadia, mielomeningocele) podem interferir no funcionamento normal do aparelho urinário e podem estar associados às ITU na criança. Nas meninas (e depois nas mulheres) a uretra mais curta permite um acesso mais fácil ao interior da bexiga. O hábito intestinal ressecado ou obstipado tem influência importante na freqüência das ITU na infância.

Como sintomas de ITU nos recém-nascidos até os dois anos de vida, podemos citar aqueles que são comuns a todas as infecções nesta idade, que podem incluir: atraso ponderal, inapetência, vômitos, diarréia, palidez de pele e mucosas, fraqueza ou cansaço fácil, insônia e às vezes, febre alta. Um exame de urina completo, com urocultura e antibiograma, obtido por coleta direta ou suprapúbica (com agulha e seringa) possibilita um diagnóstico preciso. Na idade pré-escolar, dos 2 aos 5 anos, os sintomas gerais antes citados podem estar presentes e aqui as crianças já podem também referir alguma queixa, como dor abdominal, ardência ou dor para urinar, que ajudam sobremaneira no diagnóstico. Crianças mais velhas em geral já referem com mais clareza seus sintomas, facilitando o diagnóstico e tratamento.

As opções de tratamento baseiam-se na gravidade do quadro infeccioso. Não se vai internar uma cistite, mas nas pielonefrites é um cuidado comum, ante a gravidade do caso. Lembramos aqui que o rim filtra todo nosso sangue. Um germe renal pode facilmente chegar ao sangue, iniciando um quadro de septicemia (infecção generalizada) extremamente grave.

O tratamento antibiótico deve ser, sempre que possível, baseado em antibiograma, onde a sensibilidade do antibiótico é testada contra o germe em questão, variando de 7 a 14 dias de tratamento. Para as crianças com infecção recorrente (repetição), sem causa demonstrável, o uso prolongado de antibióticos pode ser adotado para profilaxia ou prevenção das ITU.

Como sugestões, que servem para os adultos também, pode ser de ajuda aumentar a ingestão de líquidos, pois a troca freqüente de urina dificulta a multiplicação das bactérias e renova os mecanismos de defesa da urina. Ensinar as meninas (e mulheres) que após urinar e evacuar se higienizem da frente para trás, evitando assim de semear a uretra com secreções vaginais e restos fecais. Nos casos de fimose verdadeira, a circuncisão (postectomia) é fundamental na prevenção das ITU nos meninos, especialmente de baixa idade.